Participação: Dra Taline Costa
Doping. Talvez você já tenha ouvido essa palavrinha por aí.
O uso de substâncias que podem alterar a resposta do nosso corpo a um estímulo é prática comum entre aqueles que pretendem potencializar o rendimento, força, performance e até mesmo a perda de peso.
A prática se tornou popular entre os atletas de alto rendimento que, ultrapassadas todas as estratégias fisiológicas habituais – como seguir uma rotina de treinos e alimentação focadas para o esporte -, buscam conquistar o máximo do seu desempenho apelando para o uso dessas substâncias.
Com a criação do COI (Comitê Olímpico Internacional), um protocolo rígido de exames antidoping foi implementado dentro das competições esportivas e fora delas. Hoje, essa prática é ilegal. O atleta que for flagrado fazendo uso desse tipo de substância pode ser punido e até afastado do esporte.
Mas essa não é uma realidade só da alta performance.
Bomba. Ou melhor, anabolizantes.
Fora do contexto do esporte profissional, o uso de esteróides androgênicos anabólicos para fins estéticos é prática que tem sido cada vez mais naturalizada em academias e outros ambientes fitness, mas que podem trazer consequências irreversíveis para a saúde.
“É um problema de saúde pública porque esse é um mercado que tem se tornado cada vez mais lucrativo. O anabolizante dá o resultado estético esperado de forma muito rápida. Mas não há evidências científicas que demonstrem a segurança do uso indiscriminado dessas substâncias”, explica Taline Costa, médica do Time de Saúde da Alice.
Para a médica, a naturalização dos usos de anabolizantes é reflexo direto de uma cultura que enaltece padrões corporais idealizados e, muitas vezes, longe daquilo que realmente seria um corpo saudável.
“Assim como o sedentarismo pode trazer prejuízos para a saúde, o extremo fitness também não é saudável. Precisamos alinhar expectativas; o anabolizante te leva a lugares acima do seu natural, sem qualquer comprovação de que isso é seguro para você. Então, antes de usar qualquer coisa, a primeira pergunta que você deveria se fazer é um pouco mais complexa: qual a expectativa que você tem em relação ao seu próprio corpo?”, questiona.
Existem dois perfis de pessoas mais comuns que buscam essas substâncias para acelerar o processo de ganho de massa muscular.
O primeiro é o de indivíduos que buscam informações na internet ou até mesmo em locais esportivos que frequentam, como academias. Dispostos a alcançar o padrão estético desejado, eles não prestam atenção nas consequências do uso de anabolizantes.
Por outro lado, há o grupo que possui mais acesso à informação e também tem maior poder aquisitivo.
Eles estão dispostos a gastar altos montantes de dinheiro em busca do corpo “perfeito” e, para isso, muitas vezes buscam um profissional de saúde para orientá-los.
Altas doses de hormônios são prescritas por profissionais de saúde, mesmo em situações em que não há déficit dessas substâncias, como a testosterona ou o GH (popularmente conhecido como “hormônio do crescimento”).
Esse tipo de reposição hormonal, sem a indicação clínica de hormônio faltante, tem objetivo similar ao de outros anabolizantes, como a oxandrolona e o estanozolol: acelerar a construção de músculos e também aumentar a performance.
Porém, para a médica Taline Costa, não há evidências científicas que apontem para a segurança do uso indiscriminado das superdoses desses hormônios.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), inclusive, possui uma campanha de conscientização sobre os riscos dos anabolizantes intitulada “Bomba, Tô Fora”.
“É preciso um processo educacional tanto dos profissionais de saúde quanto da população em geral. A gente precisa manter firme o posicionamento de que não podemos nem precisamos prescrever o uso de hormônios para fins estéticos. Não faz sentido a gente desenvolver diversos efeitos colaterais e precisar tratá-los como resultado do uso de uma droga que é puramente opcional”, defende a médica Taline Costa.
O que são os esteróides anabolizantes?
Os esteróides androgênicos anabólicos, mais conhecidos como anabolizantes, são hormônios sintéticos derivados principalmente da testosterona. Eles atuam no crescimento celular e nos tecidos do corpo, como o ósseo e o muscular.
Esses hormônios sintéticos podem ser usados em condições clínicas específicas, a partir da indicação médica, em casos em que há a comprovada deficiência hormonal.
Nesses casos, as doses são mínimas e utilizadas para regular alguma disfunção do organismo.
“A reposição hormonal é indicada quando você tem deficiência, ou seja, uma baixa quantidade de determinado hormônio no seu corpo, que pode afetar as suas funções biológicas e trazer prejuízos. Mas a maioria das pessoas não têm o hormônio faltante e busca a reposição para fins estéticos ou de performance”, explica Taline Costa.
Os efeitos colaterais dos anabolizantes
Em busca da melhor performance ou de um corpo mais definido, muitas pessoas esquecem que o uso de anabolizantes traz efeitos adversos para a saúde, tanto em homens quanto em mulheres.
A começar pelas mudanças físicas. Estudos apontam para um desequilíbrio hormonal que leva ao aumento de acnes, calvície, transformação no tom de voz e aumento ou atrofia das mamas.
O uso indiscriminado dos anabolizantes também traz distúrbios da função do fígado, potencial surgimento de tumores, infertilidade, maior risco de trombose, alteração do colesterol e possibilidade de adoecimento cardiovascular com o aumento da pressão arterial e risco aumentado de infarto cardíaco.
Do ponto de vista emocional e comportamental, o uso dos anabolizantes também está associado a mudanças e transtornos de humor, que desencadeiam episódios de irritabilidade, ansiedade, alterações psicomotoras e até efeitos na memória.
Ainda, outro ponto preocupante, de acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), são os casos associados de infecção pelo HIV e vírus da hepatite.
De acordo com dados analisados pela SBEM, a maior parte dos anabolizantes esteróides é aplicada por meio de injeções e, não raro, as agulhas são compartilhadas, aumentando o risco de infecção.
A instituição também chama a atenção para o fato de que a comercialização dos produtos sem uma prescrição ou indicação médica não deve ser confiável, uma vez que pode conter outras substâncias atreladas ao produto.
Como aumentar a massa muscular com saúde
Construir músculos de forma saudável requer disciplina, constância e dedicação ao longo do tempo. O desafio é entender a importância da consistência.
Para se ter um bom resultado para a saúde, os treinos de força precisam ser regulares e acompanhados de uma alimentação equilibrada.
Mas o mais importante mesmo é começar. A seguir, veja dicas de como conquistar massa muscular com saúde.
Como montar um plano alimentar para as suas refeições?
Treine com compromisso
Não é preciso dedicar horas do seu dia à prática de exercícios, mas planeje o seu treino no horário adequado e assuma o seu compromisso com a sua saúde.
Não fuja da intensidade
Feito é melhor que não feito, mas já que você está dedicado àquele momento de exercício, tente dar o melhor de si. Ajuste a carga de peso e as repetições necessárias para cada movimento com o auxílio de um profissional de preparação física.
Lembre-se da alimentação
Boa parte do seu ganho estético e de saúde da hipertrofia será responsabilidade do que você faz para além dos exercícios, e isso inclui manter uma alimentação balanceada sem medo dos carboidratos e das proteínas. Por isso, verifique a quantidade necessária de cada grupo alimentar com o seu profissional de nutrição de confiança.
Mantenha-se hidratado
Os benefícios da água são inúmeros para o nosso corpo, mas no caso dos músculos ela é essencial. A água é fundamental para a síntese proteica, ou seja, para a construção das fibras que vão formar os nossos músculos.
Durma bem
É durante o sono que o nosso organismo produz os hormônios necessários para o crescimento muscular, como testosterona e GH. A privação de sono, por sua vez, eleva os níveis de cortisol, que atrapalham o ganho de massa muscular. Uma boa noite de sono é mais do que merecida.
Descanse entre os treinos
O tempo de recuperação entre as práticas de exercícios é essencial para a reconstrução das fibras musculares. A depender da intensidade do exercício, esse período pode ser de 24h a 72h. Por isso, alguns programas de treinamento precisam alternar os grupos musculares trabalhados. Só assim garantimos a plena recuperação do nosso corpo e, com isso, o seu crescimento.